Pedro Lugarinho
Eu já te vi no ventre
Era pequenina, milimétrica e preencheu minha lacuna
Um sinal vital procuramos, feixes adentre
De seu coração, ouvi a batida oportuna
Por poucas semanas, fui feliz, forte e fanática
Perto das nuvens, flutuei e me empoderei
Mas foi quando te vi não viva que virei lunática
O caos virou lei
Fiquei fechada, ferida, fraca
Primeiro, não quis acreditar
Procurei a batida de novo, mas só nadei na ressaca
Águas agitadas minguaram meu ar
Uma perda imprevista empurrou goela abaixo um ódio espontâneo
Minha vida negociei abraçada à histeria
Busquei um alívio momentâneo
Ou eterno, quando me dei conta que nunca te veria
Afundei apagada
Em silêncio, vivenciei as dores
As contrações sem final feliz, frustrada
Você fora de mim num dilúvio de cores
Vermelho áspero com branco delírio
Vinho coagulado com roxo sufocante
Meu fim, meu martírio
Ao menos, vislumbrei o seu semblante
Acordei em uma caverna submersa
Prendi a respiração, isolada
Tentei compreender essa conclusão perversa
No final, aceitei, mesmo enjoada
Entendi que o mundo é incoerente
Muitos querem e não conseguem, vida de sofrimento
Sei que você seria serelepe e sorridente
Nunca foi, e isso eu ainda lamento